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Rooibos

Apenas um blog pessoal... mais um...

Coisas que me abalam o espírito

14.06.17

Sou uma pessoa muito prática. Gosto daquilo que é palpável e gosto de andar sempre com os pés bem assentes na terra. Ainda assim, e sem conseguir perceber muito bem porquê, sou um homem de fé e também gosto de descobrir aquilo que há para além da matéria que vemos e sentimos.

Uma das formas que tenho de juntar estes meus dois lados, aparentemente opostos, é visitar locais que me levem a reflectir noutras dimensões do mundo.

Um destes locais, que visitámos neste dia de Sto. António, foi o memorial "Aos Combatentes do Ultramar", que fica perto da Torre de Belém, em Lisboa. O monumento, apesar da sua simplicidade, leva a pensar nos muitos que morreram em combate (supostamente em defesa da nação). Ali, muitos nomes, inscritos em lápides, são eternizados e elevados ao céu pela estrutura que parte do centro do pequeno lago e que converge em direcção às nuvens. Certamente que muitos outros nomes faltarão ali.

Não sendo a primeira vez que por ali passámos, desta vez tivémos oportunidade de visitar a pequena capela que está inserida no monumento. A partir da capela, passando por um pequeno corredor que nos afasta do mundo, chega-se a uma sala, onde no centro se encontra o túmulo do soldado desconhecido e onde uma gravação vai dizendo, ininterruptamente, os nomes inscritos nas lápides do monumento.

Não tive nenhum familiar que tivesse falecido em combate, mas a morte é um assunto com o qual estou pouco à vontade. Por isso, esta visita é daquelas que me fazem reflectir.

Mas chegados à rua novamente, depressa deixo este meu modo introspectivo.

Ali, no pequeno lago que compõe o monumento e que simboliza a distância a que estavam aqueles combatentes, um grande grupo de miúdos tomava banho. As famílias ali estavam, acampadas na relva, observando os miúdos. Alguns secavam ao sol, estendidos nas toalhas.

E aquele local, normalmente silencioso pela força do seu significado, que deveria ser uma homenagem aos milhares que partiram, estava transformado numa piscina pública.

Haveria alguma coisa que se podia fazer? Se calhar não, até porque os dois militares que estavam de vigia ao monumento continuavam impávidos e serenos perante o triste espectáculo.

A cena só me fez lembrar quando, lá na "santa terrinha", alguns miúdos tomavam banho no lago que ficava no jardim público. Para quê irem para as piscinas como toda a gente, se ali podiam tomar banho de forma gratuita?

A coincidência entre as duas cenas, separadas por 200 km? É que os miúdos eram da mesma etnia, por isso me lembrei disto. Mas como não quero generalizar, fico-me por aqui com este pormenor.

Mas que isto me abalou o espírito, pois abalou.

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